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domingo, 19 de fevereiro de 2012

A PROBLEMÁTICA DA EVASÃO ESCOLAR E A REPROVAÇÃO


Por Alexandre Virginio

            
Ana Maria Freire, disse certa vez que “a educação é um ato de dor”. A cada novo conhecimento concebido, um conhecimento anterior é expulso e, de certa forma, cria um conflito com o conhecimento anterior estabelecido. Isso significa dizer que o processo educativo por si só causa constrangimento em toda sua ação, desde a formação, a introspecção e o desenvolvimento do ato formador. Some-se a isso a mentalite excludente, impregnada por um modelo capilador, tradicional e excludente aplicado por docentes e suas pedagogias conservadoras.
            Vasconcelos (1995, p.19) afirma que: “uma formação deficitária, dificulta em articular teoria e prática: A teoria de que dispomos, de modo geral, é abstrata, desvinculada da prática e, por vez a abordagem que os alunos fazem de prática é superficial, imediatista e não crítica”.   



Nesse bojo dos questionamentos pouca coisa é tão cercada por equívocos, em nossa escola quanto à reprovação, que se perpetua como um traço cultural autoritário e antieducativo, fruto claro do modelo desmotivador de escola somado a nossa pratica docente. Começa pela abordagem errônea de avaliação na qual se sustenta, determinando de forma brusca e impositiva a capacidade cognitiva de ação educativa, haja vista, que analisa o fim do processo educador em detrimento a realidade do aluno em todo o contexto social-escolar, assim, a escola passa a ser percebida como ante democrática e o direito a educação fica a mercê daqueles que aparentemente se superam em esforço sobre-humano.

A única forma de estabelecer um padrão mínimo de qualidade no ensino é pensar uma instituição onde o currículo seja integrado, ou seja, a escola vislumbre uma integral educação, fazendo quer os alunos percebam o valor da escola na sua vida. A proposta de uma escola aberta aos finais de semana dá um caráter de continuidade de aprendizagem, pois redireciona os parâmetros pedagógicos para um currículo formador, onde as experiências e atividades executadas pelos alunos  logrem objetivo a ser alcançados. (KARLING, 1991)

Nesse bojo conceitual da escola aberta, diz Karling (1991, p 255), entra tudo que interessa para a aprendizagem: conteúdos, experiências, atividades, estratégias, técnicas, meios auxiliares, cultura ambiental, sociedade e valores. Ora, uma escola que se preocupa com as perspectivas mais intrínsecas da realidade do aluno, jamais projetaria altos índice de evasão.

A Educação Integral exige mais do que compromissos: impõe também e principalmente projeto pedagógico, formação de seus agentes, infraestrutura e meios para sua implantação. Ela será o resultado dessas condições de partida e daquilo que for criado e construído em cada escola, em cada rede de ensino, com a participação dos educadores, educandos e das comunidades que podem e devem contribuir para ampliar os tempos e os espaços de formação de nossas crianças, adolescentes e jovens na perspectiva de que o acesso à educação pública seja complementado pelos processos de permanência e aprendizagem. (Ministério da Educação, 2009)


Em toda prática humana individual ou coletiva, deve existir um processo que acompanhe o desenrolar de uma atividade, corrigindo-lhes os rumos e adequando os meios aos fins. Na escola brasileira isso não é considerado, pois somente ao fim de cada período é que se percebe que tudo estava errado e o mais terrível, essa percepção origina-se fora da escola por pessoas que deslumbram resultados lineares e contextuais de todo processo educativo. O pior, é que descobrimos todos os dias, em todas as aulas que algo está errado, que a prática pedagógica, copiadora e memorizante refletem sinais de pobreza didática, de miserabilidade na formação cidadã para a vida. Em lugar de corrigir os erros, repetem-se tudo novamente: a mesma escola, o mesmo aluno, o mesmo professor, os mesmos métodos, o mesmo conteúdo. Uma realidade não de repetente, mas de multi-repetentes condicionados ao fracasso. O mais incrível e absurdo ocorre quando a instituição escolar e o poder público buscam identificar a origem do fracasso.
Como afirma Isabel Alarcão ( 2008, p 30):

A escola deve enfatizar o sujeito que aprende e seu papel e criar, dinamizar,  e estruturar situações de aprendizagem e estimular a auto-confiança nas capacidades individuais de aprender. O conhecer do eu afetivo do aluno é fundamental para aprender a conhecer, a fazer e a viver com os outros

Portanto, as atividades pedagógicas que se dão na escola supõem um quase infindável conjunto de atividades, de recursos, de decisões, de pessoas e instituições, que vão desde as políticas públicas, as decisões do governo, passando pelas secretarias de educação, chegando a própria unidade escolar em que estão envolvidas professores, direção, condições de trabalho, aluno, família e coordenadores, material didático etc. etc. No entanto, quando buscam analisar e identificar as razões do não aprendizado, o único elemento destacado é o “aluno”.   O fato é só os alunos são culpados, porque estes, são diretamente punidos pela reprovação, à medida que lhes inferem toda responsabilidade, como que não  tivessem inteligência e força de vontade.

“Não adianta construir e reformar prédios, adotá-las de todos os recurso tecnológico, se seu líder, o professor está desmotivado e despreparado, com uma prática pedagógica obsoleta, perpetuada, não por garantias jurídicas educacionais, mas porque ele mesmo não busca alternativas ao sistema e seu devido preparo para o ato de educar. (NOVOA, 1992,p. 9)”.

                Para que, então, serve a escola?
            Como se justifica o processo de exclusão ?

Gadotti (1987) no responde afirmando que a escola deve ser orientada para uma concepção de educação que zele pela cidadania ativa, aprofundando a participação da sociedade civil, bem como uma educação para o desenvolvimento auto-sustentável. Um país que projete esses dois princípios elencará uma eqüidade maior entre classes e pessoas. 


Essas perguntas, alias, vem bem a propósito questionar a forma equivocada e anticientífica como se concebe o ensino tradicional ainda dominante em todas as instituições de ensino. Apesar da didática ter reiteradamente demonstrado a completa ineficiência do prêmio e do castigo como fatores motivacionais para o aprendizado significativo, ainda se lança como fator generalizante da ameaça de reprovação como recurso pedagógico. Esse postulado e hábito revelam a suprema ignorância dos fundamentos da arte de educar, à escola, por tudo o que vemos, compete apenas a reprodução das informações e se o aluno não for bom capilador cabe a escola reprová-lo.
A reprovação é uma ameaça que impulsiona a motivação para que o aluno estude. Deste feita, o nosso sistema educacional esconde a verdadeira motivação, que deve estar no próprio estudo, na forma de trabalhar as competências e conteúdos, a fim de que se torne o processo de aprendizagem prazeroso e desejado pelo aluno.
No dizer de Zanotti (1972, p 22)“ A escola é regida no grande instrumento para converter os súditos em cidadãos, redimindo os homens do seu pecado histórico: a ignorância, a miséria moral, a opressão e a miséria política
 Nesse sentido, o papel primordial da escola é levar o aluno a querer aprender de forma construtiva, desprendendo, desconstruindo os textos, conceitos e temas.  A Educação é um valor que não se adquire geneticamente; é preciso uma consistência na relação pedagógica para que o aluno torne-se seduzido, estimulado e, sobretudo fascinado com as mensagens e leituras disciplinares.

Podemos dizer que a ampliação do tempo na Educação Integral tem sido alvo de debates sobre a maior permanência das crianças e jovens, seja no espaço escolar, seja na perspectiva da cidade como espaço educativo. Nas experiências de Educação Integral conhecidas, podemos perceber que as concepções que orientam as ações e espaços são muito variadas em relação aos objetivos, à organização, ao tipo de atividade proposta, assim como às próprias denominações contraturno, turno inverso, turno contrário, ampliação de jornada, turno complementar, atividades extras, entre outros. (Ministério da Educação e Cultura,  2009)

A questão aqui discutida não infere apenas o caráter da reprovação, aliás, ela é o fim em si mesmo, justificado por todo um contexto de gerenciamento da educação onde não há uma perspectiva para a vida em sociedade, onde não há uma forma de integrar conhecimentos do senso comum e da escola, onde não há um motivo que faça entender a importância de estar na escola e estudar. Como aferir as capacidades e aproveitamento? É o modelo pedagógico aplicado que leva o aluno a enganar a si mesmo, aos examinadores e a sociedade. Como reverter e prender a atenção deste aluno?
O aluno só freqüenta as aulas para se livrar do estudo, ou seja, terminar rapidamente aquele tempo previsto ou então foge de vez, pois a pedagogia aplicada lhe coloca à frente de obstáculos e não de pontes de possibilidades que lhe permite atravessar com segurança às dificuldades. A desmotivação e a apatia escolar são apenas mais um ponto entre tantas problemáticas pedagógicas.
Ratifica Hoffmann (2005, p 22) quando fala da reprovação como elemento desestimulador da eficiência do ensino:

A verdade é que tal sistema classificatório é tremendamente vago no sentido de apontar as falhas do processo. Não aponta as reais dificuldades do aluno e do professor. Não sugere qualquer encaminhamento , porque descrimina e seleciona antes de tudo. Apenas reforça a concepção de uma escola para poucos.

A LDB, lei 9.394/96, em seu Art. 24, III e IV, trás em seu texto referendo acerca da progressão continuada. No entanto, essa pratica, embora coíba o vicio reprovador, não acrescenta nada para a superação do mau ensino. O aluno ate que consegue finalizar ou chegar as series finais, mas continua mergulhado na mais absoluta ignorância. Tão analfabeto quanto antes. Deixa de aprender porque o ensino é ruim  e, se reflete no modelo pedagógico e na postura avaliadora adotada.
Com a aprovação desses alunos ineficientes, percebe-se a promiscuidades e a incompetência com os valores educacionais necessários a vida em sociedade, posto que a escola torna-se incapaz da formação do aluno. A pratica da reprovação alem de excludente, de marginalizar, serve como álibi para a secular incompetência da escola, que se exime da culpa que è exclusivamente dela e do sistema que a mantém.

Para que a escola torne-se o lugar de referencia è preciso que os elementos estruturais tomem novos rumos, que a pratica docente faça  prevalecer o aprendizado no intuito de todos alcançar sua formação básica enquanto um direito constitucional

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