Por Arísia Barros
‘A sociedade precisa perceber que ser diferente não é ser desigual’, afirma a coordenadora do Projeto Raízes de Áfricas,
Negro zumbi. Resistência do povo escravo e sofrido em locais de refúgio: os famosos quilombos. Para muitos brancos, pardos, amarelos, indígenas e até pretos, o dia 20 de novembro é relembrado como uma simples comemoração ou até uma ‘folga’ para viajar, ir a uma praia ou cinema. Porém, este sábado representa muito mais do que um dia de descanso; é um tempo de reflexão. Mas, será que a sociedade traduz a data de maneira reflexiva?
A reportagem do Gazetaweb procurou saber a respeito desse dia histórico com a coordenadora do Projeto Raízes de Áfricas e representante do Movimento Social Negro Alagoano, professora Arísia Barros. Segundo ela, a Consciência Negra é a culminância de um projeto político com o objetivo de o negro tornar-se um legítimo cidadão. Para Arísia, o racismo tem sido um empecilho para o desenvolvimento desse atributo. “Se formos olhar o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], há uns três anos, os números apontavam 47% de negros e pardos na linha do analfabetismo. O preconceito já começa nesse momento” – enfatizou.
De acordo com a professora, o negro ainda se encontra no processo de ser capturado daquela visão de periferia. “Por que o governo não retira os negros de seus quilombos, de seus locais de origem? Porque terá que investir mais ainda em educação, saúde, segurança e infraestrutura. Não é interessante retirar as minorias de onde elas estão. Então, é melhor deixá-las lá, como os índios em sua tribos. E, assim, a desigualdade tende a aumentar”. Ela explicou que Zumbi transcendeu o sentido do ser guerreiro e perspicaz, uma vez que acreditava que toda a sociedade era igual, no sentido de o quilombo – modelo de sociedade – abrigar não somente negros, mas também, pardos, brancos e outras etnias.
Políticas adotadas
Arísia Barros comentou sobre as políticas governamentais implantadas para contornar os problemas históricos enfrentados pela população negra. Entre elas, o Ministério da Igualdade Racial, criado no Governo de Lula; a Lei 10.639/03, existente há sete anos, por meio da qual foi implantado o estudo da África e descendentes no currículo escolar; a Secretaria de Promoção e Defesa das Minorias; o primeiro Seminário de Educação Quilombola; Gerência Política de Educação Étnica em Alagoas.
“Se você for analisar cada política dessas, chegará à conclusão de que nenhuma surtiu efeito, pois não houve e não há um olhar do Estado, que investirá, somente, se tiver retorno lucrativo e nada mais. O que não é vantajoso para um político, é descartado e esquecido até pela sociedade” – frisou a professora.
Cotas
Política de cotas: direito ou preconceito? A professora Arísia Barros defendeu o sistema de cotas na medida em que ‘não há preconceito’, pois a prova elaborada para um negro é mesma de um branco. Segundo ela, o percentual de 20% destinado a negros é coerente. “Tem que haver essa divisão, por mais que o estudante aprovado pela cota seja discriminado na universidade. É um direito dele porque ele tem deficiências desde o Ensino Primário até o Ensino Médio, muitas decorrentes do racismo” – reforçou.
Comunidades quilombolas têm sentido?
De acordo com Arísia, o maior desafio enfrentado pelas comunidades é a infraestrutura. Quanto à comunidade Muquém, em União dos Palmares, 90% trabalham no corte da cana. Novamente, a educadora reforça a necessidade de uma política de estado que direcione os negros à cidadania. “Os quilombos têm uma dependência nociva do Estado. Em Alagoas, eles não andam com os próprios pés. Nosso Estado já foi citado como ‘pequena África’. Se formos levar em consideração o poder da TV, pensaremos em Pelé, que não é visto como negro, e sim, como um astro. Vemos até meninas negras que alisam cabelo e a incorporação do modelo branco hegemônico aumentando cada vez mais”.
Segundo o Instituto de Terras de Alagoas (Iteral/AL), atualmente, existem 65 comunidades quilombolas distribuídas no Estado. Algumas delas foram registradas e ganharam reconhecimento público no ano de 2005, como Alto do Tamanduá, situada em Poço das Trincheiras; Cajá dos Negros, em Batalha; Muquém, em União; Paus Pretos, em Monteirópolis; Povoado Cruz, Delmiro Gouveia; Quilombo, na cidade de Santa Luzia do Norte; e entre outras. Já no ano de 2006, foram reconhecidas Chifre do Bode, em Pão de Açúcar; Guaxini, Cacimbinhas; Mameluco, em Taquarana; e outras comunidades. E, em 2007, Carrasco e Pau D´Arco, localizadas em Arapiraca; e Tabuleiro dos Negros, em Penedo.
Visão da escola
Ao ser questionada quanto às comemorações dos colégios públicos e particulares antigamente e o desinteresse dos alunos pela prática nos dias atuais, Arísia foi bastante enfática. “Só o desfile não é interessante. A concretização de se comemorar este dia tem que existir o ano inteiro. O essencial é que as escolas reavaliem seus currículos através de valores. Elas precisam apoiar-se na Lei 10.639/03 para ensinar aos alunos temas étnico-raciais de forma interdisciplinar”.
A professora afirmou que a sociedade alagoana encontra-se em mudanças perante o preconceito racial, mas o racismo ainda é poderoso. “O preconceito veste várias roupagens. Devido a isso, é que precisamos de políticas públicas eficazes para reforçar a história do negro. Eu acredito que, um dia, o negro será colocado no mesmo patamar do branco. A sociedade precisa perceber que ser diferente não é ser desigual” – concluiu.
A reportagem do Gazetaweb procurou saber a respeito desse dia histórico com a coordenadora do Projeto Raízes de Áfricas e representante do Movimento Social Negro Alagoano, professora Arísia Barros. Segundo ela, a Consciência Negra é a culminância de um projeto político com o objetivo de o negro tornar-se um legítimo cidadão. Para Arísia, o racismo tem sido um empecilho para o desenvolvimento desse atributo. “Se formos olhar o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], há uns três anos, os números apontavam 47% de negros e pardos na linha do analfabetismo. O preconceito já começa nesse momento” – enfatizou.
De acordo com a professora, o negro ainda se encontra no processo de ser capturado daquela visão de periferia. “Por que o governo não retira os negros de seus quilombos, de seus locais de origem? Porque terá que investir mais ainda em educação, saúde, segurança e infraestrutura. Não é interessante retirar as minorias de onde elas estão. Então, é melhor deixá-las lá, como os índios em sua tribos. E, assim, a desigualdade tende a aumentar”. Ela explicou que Zumbi transcendeu o sentido do ser guerreiro e perspicaz, uma vez que acreditava que toda a sociedade era igual, no sentido de o quilombo – modelo de sociedade – abrigar não somente negros, mas também, pardos, brancos e outras etnias.
Políticas adotadas
Arísia Barros comentou sobre as políticas governamentais implantadas para contornar os problemas históricos enfrentados pela população negra. Entre elas, o Ministério da Igualdade Racial, criado no Governo de Lula; a Lei 10.639/03, existente há sete anos, por meio da qual foi implantado o estudo da África e descendentes no currículo escolar; a Secretaria de Promoção e Defesa das Minorias; o primeiro Seminário de Educação Quilombola; Gerência Política de Educação Étnica em Alagoas.
“Se você for analisar cada política dessas, chegará à conclusão de que nenhuma surtiu efeito, pois não houve e não há um olhar do Estado, que investirá, somente, se tiver retorno lucrativo e nada mais. O que não é vantajoso para um político, é descartado e esquecido até pela sociedade” – frisou a professora.
Cotas
Política de cotas: direito ou preconceito? A professora Arísia Barros defendeu o sistema de cotas na medida em que ‘não há preconceito’, pois a prova elaborada para um negro é mesma de um branco. Segundo ela, o percentual de 20% destinado a negros é coerente. “Tem que haver essa divisão, por mais que o estudante aprovado pela cota seja discriminado na universidade. É um direito dele porque ele tem deficiências desde o Ensino Primário até o Ensino Médio, muitas decorrentes do racismo” – reforçou.
Comunidades quilombolas têm sentido?
De acordo com Arísia, o maior desafio enfrentado pelas comunidades é a infraestrutura. Quanto à comunidade Muquém, em União dos Palmares, 90% trabalham no corte da cana. Novamente, a educadora reforça a necessidade de uma política de estado que direcione os negros à cidadania. “Os quilombos têm uma dependência nociva do Estado. Em Alagoas, eles não andam com os próprios pés. Nosso Estado já foi citado como ‘pequena África’. Se formos levar em consideração o poder da TV, pensaremos em Pelé, que não é visto como negro, e sim, como um astro. Vemos até meninas negras que alisam cabelo e a incorporação do modelo branco hegemônico aumentando cada vez mais”.
Segundo o Instituto de Terras de Alagoas (Iteral/AL), atualmente, existem 65 comunidades quilombolas distribuídas no Estado. Algumas delas foram registradas e ganharam reconhecimento público no ano de 2005, como Alto do Tamanduá, situada em Poço das Trincheiras; Cajá dos Negros, em Batalha; Muquém, em União; Paus Pretos, em Monteirópolis; Povoado Cruz, Delmiro Gouveia; Quilombo, na cidade de Santa Luzia do Norte; e entre outras. Já no ano de 2006, foram reconhecidas Chifre do Bode, em Pão de Açúcar; Guaxini, Cacimbinhas; Mameluco, em Taquarana; e outras comunidades. E, em 2007, Carrasco e Pau D´Arco, localizadas em Arapiraca; e Tabuleiro dos Negros, em Penedo.
Visão da escola
Ao ser questionada quanto às comemorações dos colégios públicos e particulares antigamente e o desinteresse dos alunos pela prática nos dias atuais, Arísia foi bastante enfática. “Só o desfile não é interessante. A concretização de se comemorar este dia tem que existir o ano inteiro. O essencial é que as escolas reavaliem seus currículos através de valores. Elas precisam apoiar-se na Lei 10.639/03 para ensinar aos alunos temas étnico-raciais de forma interdisciplinar”.
A professora afirmou que a sociedade alagoana encontra-se em mudanças perante o preconceito racial, mas o racismo ainda é poderoso. “O preconceito veste várias roupagens. Devido a isso, é que precisamos de políticas públicas eficazes para reforçar a história do negro. Eu acredito que, um dia, o negro será colocado no mesmo patamar do branco. A sociedade precisa perceber que ser diferente não é ser desigual” – concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário