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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Violência Enquanto Negação e não Adaptação Social e Escolar

 Por Alexandre Virgínio
           
Por vezes, a maior parte da sociedade culpa a escola como a principal responsável pelas mazelas que envolvem a violência dos jovens, outra parte culpa a falta de punição da justiça. Na verdade, a violência é resultado de uma aculturação da própria  violência. Parece redundante e sem sentido, mas ela nasce na omissão da sociedade em impor limites e valores, e da exposição banalizadora da própria violência, ou seja, esta existindo em nossa sociedade uma educação silenciosa e desumanizadora que forja no ser em desenvolvimento os norteadores da agressividade, da corrupção e da falta de compaixão.
Com esses pressupostos o ato da brutalidade e da violação do outro torna-se algo de defesa dos próprios grupos em questão. Não trata-se de algo aleatório, mas pessoas que se juntam em um mesmo ideal (identidade) destrutivo para se defender de um inimigo silencioso, o desprezo e a exclusão social.
Quando alguém se pergunta quem ele é, está fazendo uma pergunta que o remete à sua atividade, à sua historia de vida, ao seu futuro, aos seus sonhos e fantasias, características de personalidade, heranças parentais etc. Este plano é o plano da identidade..ao que é igual a si mesmo. (BRANDÃO, 1986)  

            Conforme se observa, a socialização destes grupos de violência são determinados pelo pensamento único e participação coletivas de suas ações. Ora, o aspecto positivo de uma socialização para vida é ensinado e apreendido dentro do seio da família e da escola. Se ambas negaram-se ou não preocuparam-se  no oficio de criar valores de solidariedade, cooperação e amor aos seus entes, eles tiveram que aprender da maneira mais dura e fria, na sociedade.
No entanto os valores previstos no meio social não são diretamente valores e crenças postulados pela família e escola. Na sociedade os valores são deturpados e acomodados pelo ritmo de todas as nuances negativas. Se o jovem esta preparado, eles as enfrentam de frente, caso contrario são absorvidos e consumidos pelo seus pressupostos. Daí a violência passa a ser a marca que identifica o jovem, e procuram o seus grupos de pensamento para se fortalecer e ser entendidos.

A identidade, o igual a si mesmo, depende de sua diferenciação em relação ao outro, o que faz com que os indivíduos se interem entre si e sua cultura. O sujeito sabe que ele é ele mesmo, tem consciência de si mesmo. Tem posse do seu próprio eu. (BRANDÃO)   
         
            A escola que deveria construir essa consciência do eu para forjar no individuo o sentimento e os valores humanitários de que ele dispõe para, simplesmente recusa-se, exclui e aliena. A escola ensina um saber universal, o aluno necessita de um saber local, diferencia e dentro de sua realidade. Se não se identifica com a escola, não existe motivo para estar nela. A violência é a violação de esta consciência de que ali não é o meu lugar.
A sociedade moderna esta anexando aos valores já corrompidos dos nossos jovens uma educação visual e auditiva que permeia o imaginário. O deslumbramento e/ou espanto com o mundo do espetáculo e do poder esmerado pela violência torna o individuo seduzido e onipotente. Este sentimento de onipotência que as pessoas possuem sobre outras, que não vê limites nem piedade, os fazem sentir que nada é capaz de detê-los, embatê-los ou frear suas ações. Essa onipotência da violência nasce e ocupa o lugar da humanização da escola. A escola omissa é que permite que tais valores negativos possam emergir. A escola sem sonhos permite que os pesadelos tomem conta de nossas crianças e jovens.
Conforme Morin (2004, p 47) afirma em sua pedagogia para reverter esse quadro devemos ensinar a condição humana e fazer com que os alunos se reconheçam dentro de uma cultura local. Daí a importância imprescindível do PEA como atenuante da violência. Daí a necessidade de reverberar a escola para uma aprendizagem funcional, pratica, conceitual, profissional e atitudinal como vetor de transformação local. 

Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele...Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente...Interrogar nossa condição humana implica questionar primeiro nossa posição no mundo(MORIM, 2004)

Freud afirma que a violência nasce da insatisfação da alma humana. Todo ser é dotado de desejos que dê significado a vida, quando esses desejos não são atendidos, o individuo cria conflitos interiores que resultam na agressividade e desespero por realizá-los. Daí nasce a violência. Por analogia entendemos que a escola tem por pressuposto básico ensinar o caminho da satisfação social e por fim atender tais desejos. Só o jovem não vê nesta instituição o caminho ou a resposta para seus conflitos, é óbvio que ira romper com esse universo antagônico a sua realidade.       
No tecido urbano, esses grupos se identificam como forças paralelas estereotipadas pelo jeito de vestir, pensar e agir. Respondem a um sentimento de ruptura e de rebeldia sem causa aparente, mas que se diagnostica como reflexo da própria insatisfação social. E a escola tem sua parcela de culpa por ser incapaz de responder a tais anseios. A identidade que estes constroem na rua, na marginalidade e no crime deveriam ser tecidas e fundamentadas na escola, através de projetos políticos pedagógicos direcionados aos jovens.
Morin (2004, p 57) corrobora com essa condição do jovem quando afirma que:

O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo. Dissemos que todo ser humano, tal como o ponto de um holograma, traz em si cosmo, mesmo aquele fechado na mais banal das vidas, constitui ele próprio um cosmo. Taz em si multiplicidades interiores, personalidades virtuais, uma infinidade de personagens quiméricos, uma poliexistência no real e no imaginário, no sono e na vigília, na obediência e nas transgressões. 

Pelo que entendemos o homem traz em si as ferramentas que o leva a construir sua identidade. Esse universo de que dispõe é tendencioso conforme os seus anseios e necessidade, conforme as suas concepções. É natural que, enquanto objeto social-histórico, o homem busque se formar e se construir paulatinamente, se refazendo e se contextualizando no cotidiano. A PEA tem exatamente o intuito de determinar que essa construção seja efetivamente benéfica para o social comunitário. Que este jovem, neste processo de fazer e se refazer não errem o caminho.
Durkeim, em sua sociologia buscando entender os a fenomenologia da violência, compactua da idéia de que é um fato social inerente a sociedade capitalista e tudo que engloba o seu entorno. Ora, no seu ideário a intensificação da violência se origina nos valores culturais, sociais, que geram a desigualdade, a competitividade e os desvios comportamentais.  Nesta perspectiva, estamos fadados ao fracasso de que não há como retornar ou buscar um sistema alternativo que resgate os nossos jovens, ma sabe-se que a escola é o lugar onde se equaliza as problemáticas sócias, é o reduto onde se disciplina para uma vida de valores e ideais humanistas.
Arregi Goenaga (1998) destaca características notórias e comuns que impulsionam a violência nos jovens:
·         A busca de identidade, procurando diferenças contrárias à geração antecedente.
·         O questionar das idéias nas quais a sociedade se fundamenta na anuência das normas;
·         Os jovens possuem uma série de capacidades e de ideais para criar e canalizar idéias inovadoras que fazem mudar a ordem da realidade já existente;
·         Os jovens são os grandes consumidores dos meios informáticos e audiovisuais, sobretudo Internet, jogos por computador, televisão e música. A televisão é um dos meios que mais violência difunde e a criança ou jovem é o sujeito passivo que mais a consome. Muitas crianças vêem televisão e jogam jogos de caráter lúdico duvidoso, sem qualquer supervisão das figuras parentais. Constroem as suas personalidades de acordo com o que observam, com uma total ausência de discernimento do que é certo ou errado;
·         A carência de bens mínimos como um trabalho, habitação, serviços sociais básicos, nomeadamente a quebra das redes de suporte familiar, sua desagregação ausência de valores essenciais dentro e fora da família, o meio onde vive, a escola que não exerce qualquer tipo de motivação, leva a que determinados indivíduos ou grupos cultivem a agressividade face à sociedade que gerou ou proporcionou déficits tão profundos e que fazem parte das suas vivências quotidianas.

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